Você costuma perder suas chaves ou regularmente faltar às consultas? Você costuma esquecer os nomes das pessoas que você conhece bem? Você se sente que sua memória está lentamente ficando pior? Se assim for, então você deve estar considerando jogar esses jogos cerebrais anunciados em toda parte. Anuncios como "onde o suor é figurativo, mas os resultados são reais" e "o seu cérebro vai agradecer" são divertidamente sedutor. Mas você pode encontrar-se perguntando se eles realmente valem o tempo e as despesas. Basta você desembolsar dinheiro, jogar algumas rodadas e seu cérebro vai começar a lembrar nomes, datas e números de senhas como se você tivesse 18 novamente ?
Sim, esses jogos digitais de treinamento do cérebro parecem ser uma boa idéia. Eles são baseados em grande parte da evidência clara de que viver em um ambiente enriquecido com muita estimulação mental produz alterações cerebrais positivas. E nós concordamos que há um enorme potencial da neuroplasticidade (ou seja, a capacidade do cérebro de mudar-se pela remodelação das conexões das células nervosas após a experiência) para melhorar a aptidão mental e prevenir o declínio da memória relacionada com a idade. Os benefícios bem estabelecidos de uma educação iníciada cedo diminui o risco de uma posterior incidência de demência, também tem dado muita credibilidade à teoria de que a construção de uma capacidade maior cognitiva pode ajudar o cérebro a compensar a lesões análogo ao conceito de que mais torres de telefonia celular diminem as quedas de chamadas. Além disso, vários neurocientistas brilhantes têm, nos últimos anos, agido como os designers dos melhores jogos do cérebro no mercado.
Mas há um problema crucial: a maioria desses estudos iniciais foram feitos em roedores. Fica a pergunta óbvia: essas alegações são verdadeiras quando se trata de desempenho do cérebro humano e envelhecimento? Eles podem realmente fazer o seu cérebro agir mais rapidamente e mais forte? Há a abordagem é verdadeira : manter-se saudável, ativo e engajado no mundo em torno? Em outras palavras, será que eles valem o dinheiro?
Até a presente data, foram feitos mais de 50 estudos sobre os benefícios do treinamento do cérebro em humanos, mas será que os benefícios persiste para a vida real? Os resultados de um dos melhores estudos, publicado no início deste ano no Journal of the American Geriatrics Society, é certamente encorajador. Glenn Smith, da Mayo Clinic e seus colegas, treinaram idosos cognitivamente normais e seus cérebros foram capazes de melhorar a sua velocidade de processamento da informação auditiva em cerca de 58 % (versus 7 % no grupo de controle). No treinamento 487 adultos com idades entre 67 a 93 anos trabalharam durante oito semanas em no Programa de Brain Fitness da Posit Science, que visa melhorar a função cerebral, estimulando o sistema auditivo. O programa Posit Science tem como premissa a ideia de que à medida que envelhecemos nosso cérebro torna-se menos eficiente no processamento de informação dos sentidos (por causa de mudanças degenerativas na córtex associativo do cérebro), que, em seguida, leva a um declínio na memória. O grupo de controle fez um programa de aprendizagem cognitiva mais convencional que implicou na visualização de vídeos educativos sobre arte e história. No final do estudo, o grupo de treinamento do cérebro também demonstrou maiores ganhos em medidas de cognição global e na memória do que o grupo controle, mas as diferenças foram menos impressionantes (4 % contra 2 % de melhoria). 48 % das pessoas no grupo de formação ativa (versus 40 % do grupo de controle) também relatou mudanças positivas em sua vida diária, tais como uma maior auto-confiança, uma melhor lembrança de listas de compras e conseguir ouvir bem a conversas em ambientes ruidosos.
Melhorar por partes.., ajuda no todo?
Uma das questões cruciais dos programas de treinamento do cérebro é se as habilidades enfatizadas durante o treinamento, como aumentar a percepção auditiva, na verdade, melhora outras habilidades cognitivas? Em outras palavras, praticar exercícios de percepção auditiva melhora a percepção visual? E por quanto tempo os efeitos do treinamento persistem?
De acordo com Sherry Willis e seus colegas da Pennsylvania State University exercícios para o cérebro que se concentram em habilidades de raciocínio levam a melhorias duradouras na vida diária. A equipe examinou o efeito de treinamentos cognitivos não informatizados (especificos para memória, raciocínio, e habilidades de velocidade de processamento) versus um grupo de controle sem contato com treinamento algum, em uma amostra de 2.832 idosos cognitivamente saudáveis. Os indivíduos receberam 10 sessões de uma hora, além de um reforços esporádicos de treinamento. Surpreendentemente, em dois anos, não houve benefício em atividades diárias. Mas depois de cinco anos, o grupo treinado com exercícios para melhorar o raciocínio apresentou um melhor desempenho nas atividades diárias (um efeito que foi feito mais perceptível pelo fato de que alguns no grupo controle apresentaram declínio). Estes resultados sugerem que uma sessão de treinamneto, mesmo que de curta duração, somados a reforços periódicos podem induzir a uma longa duração cognitiva e funcional. Benefícios que seriam como de efeito de "ensinar uma pessoa a pescar para a vida".
Onde estamos agora?
O consumidor típico de programas de treinamento de cérebro faz parte do time dos "bem preocupados", um grupo de indivíduos com cérebros normais, mas com preocupações significativas sobre o declínio cognitivo que vem com o envelhecimento. Você decidiria tentar um ou mais jogos do cérebro, se fosse advertido de que você não pode ver grandes melhorias em sua pontuação se você já é cognitivamente são? Um fenômeno conhecido como o “ceiling-efect”, efeito máximo, quando você pode sentir frustração ou tédio. E lembre-se que, apesar das promessas, nenhum programa digitalizado de aptidão do cérebro comprovou a eficácia para prevenir o aparecimento da doença de Alzheimer ou mesmo para tornar as células do cérebro mais jovens em um nível biológico.
Uma pergunta relacionada é se médicos podem usar jogos do cérebro de maneiras análogas a programas de reabilitação cardíaca, para ajudar as pessoas que já sofrem de um distúrbio de memória leve. O trabalho pioneiro de psiquiatra David Loewenstein e seus colegas da Universidade de Miami demonstrou que um programa de reabilitação cognitiva de treinamento de habilidades (praticar habilidades, tais como pagamento de contas, efetuar contas e associar nomes com caras) ajudou a indivíduos com doença em estágio inicial de Alzheimer a melhorar nas tarefas que foram treinados inicialmente e até três meses após a intervenção ser concluída. Estes benefícios, embora susceptível de se degradar rapidamente face a uma demência progressiva, certamente, comparam-se favoravelmente com o que tem sido demonstrado com qualquer jogo de cérebro comercial.
Por que simplesmente não basta jogar Bridge?
Vários estudos já demonstraram que o exercício e socialização mais tarde na vida tem efeitos positivos sobre a cognição, e ambos são tão fácil como fazer uma caminhada e chamar um amigo. Qual é a razão para o uso de jogos do cérebro, que são atividades essencialmente solitárias, exigem de você desembolsar dinheiro, sentar, olhar para tela com atenção e usar o dedo indicador para apertar o botão do mouse? A resposta imediata é que nós não sabemos. Nós simplesmente não podemos dizer que os jogos cerebrais são melhores do que atividades como aprender uma nova língua, porque ninguém fez esses tipos de comparações científicas. Mas um combinado de um pequeno investimento financeiro pessoal e tempo é apenas o que alguém precisa para encontrar a motivação certa para treinar seu cérebro de uma forma sistemática. Pense em como é mais eficaz pagar uma academia e se sentir obrigado a frequentar (especialmente quando o seu treinador(a) também está apto e é atraente) em comparação a ficar com sentado sozinho em sua garagem a frente de um grupo de halteres.
Uma coisa é clara: não há danos algum em executar jogos cognitivos e ainda há evidência que eles alem de melhorar as habilidades para que são projetados e também melhoram outras habilidades cognitivas alem de ter alguns benefícios duradouros. Se você está trabalhando com eles agora, aconselho a mantê-los!
Talvez os treinamentos computadorizados do cérebro acabarão por evoluir para uma forma de cyber-vacina que vai manter nosso cérebro jovem para sempre.
SOBRE OS AUTORES
Murali Doraiswamy é professor e diretor da Academia Lab Mental em Psiquiatria da Duke University Medical Center. Marc Agronin é professor associado de Psiquiatria da Universidade de Miami e Diretor Médico de Saúde Mental e Pesquisa Clínica no Miami Jewish Home & Hospital para Idosos.
https://www.scientificamerican.com/article/brain-games-do-they-really/