JANE E. BRODY - THE NEW YORK TIMES
27 Março 2016 | 07h 00 - Atualizado: 27 Março 2016 | 07h 00
As artes, em todas as suas formas, estão melhorando a vida e a saúde dos mais velhos e ajudando muitos homens e mulheres a saírem das casas de repouso e viverem independentes
Por todos os Estados Unidos, as artes estão injetando vida nova nos corpos e mentes dos mais velhos.
Há dois anos, um documentário incrível chamado "Alive Inside" mostrou o que a música pode fazer para os idosos norte-americanos, especialmente aqueles cujas lembranças e personalidades foram apagadas por causa da demência.
Começa com uma senhora de 90 anos, em uma casa de repouso, respondendo perguntas sobre a vida no Sul na época em que era criança. Tudo o que conseguia dizer em relação a questões mais específicas era "Desculpa, não me lembro."
Entretanto, assim que recebeu um iPod com as músicas que ouvia quando era jovem, abriu um sorriso enorme, os olhos brilhando com as lembranças vívidas que inundavam sua consciência. Agora já podia descrever, em detalhes, as canções e bailes a que ia com as amigas.
Em outra casa de repouso, um homem em estado avançado de demência se recusava a falar ou levantar a cabeça, mesmo quando ouvia seu nome, George. Ele também recebeu um iPod - e, de repente, ganhou vida, começando a falar livremente, acompanhando a música com o corpo, na cadeira de rodas, cantando junto com as melodias que adorava.
O projeto Música e Memória, que foi quem forneceu os iPods, foi inspiração de um voluntário apaixonado pela música chamado Dan Cohen e, desde então, se espalhou por várias casas de repouso e clínicas para idosos, embora não em número suficiente porque o Medicaid, que cobre integralmente os custos dos remédios fortíssimos que transformam os velhinhos em verdadeiros zumbis, não inclui uma política bem menos custosa que envolva os tocadores de música. Com isso, a grande maioria dos residentes das instalações geriátricas não tem acesso a essa bela experiência.
Apesar disso, as artes, em todas as suas formas, estão melhorando a vida e a saúde dos mais velhos - e não só aqueles que sofrem de demência - ajudando muitos homens e mulheres a saírem das casas de repouso e viverem independentes. Com verba de organizações como o Fundo Nacional para as Artes e o Instituto Nacional do Envelhecimento, indivíduos incrivelmente dedicados e com experiência no setor de artes criaram programas que usam as mais diversas atividades, como música, dança, pintura, bordado, canto, poesia e contação de histórias para dar sentido, alegria e bem-estar à vida dos idosos.
Através de uma iniciativa chamada EngAGE, no sul da Califórnia, Walter Hurlburt, 90 anos, que ganhava a vida fazendo placas, hoje decora os cômodos da Colônia de Artistas Idosos de Burbank, onde mora, com pinturas a óleo adoráveis que cria a partir das imagens que encontra em revistas e livros. Além disso, participa regularmente de aulas de várias formas de arte ministradas na instituição onde, segundo o que me disse, "está sempre aprendendo coisa nova".
Quem também mora ali é Sally Connors, uma ex-professora primária de 82 anos que surpreendeu a si mesma escrevendo e dirigindo uma peça que foi representada por colegas. Ao lado de Dolly Brittan, 79 anos, ex-pedagoga, escreveu a história de sua vida, assim como a amiga, em formato de rap - e ambas apresentaram suas lembranças no estilo, no palco, para os adolescentes problemáticos para quem servem de conselheiras.
Tanto Sally como Dolly confessam que o envolvimento com a arte faz com que se sintam décadas mais jovens.
Tim Carpenter, diretor executivo do EngAGE, está batalhando para expandir a iniciativa para outras cidades, incluindo Mineápolis, Portland, no Oregon, e Raleigh, na Carolina do Norte. Seu objetivo é criar uma rede nacional de programas para ajudar os idosos a se sentirem saudáveis, felizes e ativos através do aprendizado constante de toda e qualquer forma de arte, permitindo que vivam de forma independente o maior tempo possível.
Como em Burbank, Carpenter está promovendo o desenvolvimento de colônias em casas de repouso nas quais os moradores possam estudar e criar todas as formas de arte e onde possam vê-las ganhar vida, seja no palco ou em exposição.
O médico Gene D. Cohen, gerontologista da Universidade George Washington que faleceu em 2009, era defensor ferrenho dos benefícios mentais e físicos da criatividade para os idosos. Dirigia o Estudo de Criatividade e Envelhecimento, patrocinado pelo Fundo Nacional para as Artes em três locais, incluindo a 'Elders Share the Arts', no Brooklyn, em Nova York, que mostrou que a saúde dos pacientes dos grupos culturais, após um ano apenas, se estabilizou ou melhorou comparada ao declínio dos que pertenciam aos grupos de controle.
Em um filme chamado "Do Not Go Gently", Cohen, que fundou o Creativity Discovery Corps, mostra um arquiteto que, aos 96 anos, apresentou um plano para reformular o World Trade Center. Segundo ele, a criatividade desafia a mente, o que resulta na formação de novos dendritos, ou seja, os prolongamentos dos neurônios e canais de comunicação cerebrais.
Em 26 pontos da área de Washington, quinze artistas trabalham com idosos em centros em que moram ou visitam regularmente. Janine Tursini, diretora do Arts for the Aging em Rockville, Maryland, quer "realizar o que mais mexe com o pessoal da terceira idade" - e para isso criou grupos de cerca de vinte pessoas cada, envolvidos naquilo que chama de "fazer arte", com música, dança, pintura ou contação de história.
Janine explica que, de acordo com um estudo promovido pelo Fundo Nacional para as Artes (NEA), quando os mais velhos se envolvem em programas culturalmente enriquecedores, veem o declínio da depressão, têm menos chances de cair e fazem menos visitas ao médico. Em outro estudo entre pacientes do mal de Alzheimer, um programa de esculturas melhorou o humor e diminuiu a agitação dos participantes, mesmo depois que o programa foi encerrado.
"A arte faz as pessoas se abrirem, lhes dá novos veículos de expressão, uma chance de contar suas histórias. Os programas investem no que os participantes ainda têm e não no que perderam."
Naomi Goldberg Haas criou o Danças para uma População Variável, para colocar os mais velhos para dançar. Gente que não se mexe há anos, mesmo os que não podem mais ficar em pé, podem participar. Profissionais jovens e dançarinos mais velhos podem ir a vários lugares - bibliotecas, igrejas, centros de interação de terceira idade - onde os idosos se reúnem para encorajá-los a "se movimentar mais".
"O movimento melhora a qualidade de vida. É inegavelmente curador. O equilíbrio, a mobilidade, a força, tudo melhora", garante Naomi.
Já se sabe, de acordo com vários estudos populacionais, que o engajamento social, estimulado em praticamente todos os programas, prolonga a vida e ajuda no envelhecimento saudável. Clinicamente, leva a uma pressão sanguínea mais baixa, reduz os níveis de estresse e aumenta os índices dos "hormônios da felicidade", responsáveis pela euforia gerada pela prática de exercícios físicos.
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